quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

AS SETE LINHAS E OS SETE RAIOS DIVINOS



Nas unidades de ensino brasileiras, os alunos são agrupados em turmas de acordo com o seu nível de conhecimento, indo das classes de alfabetização até a pós-graduação. Fazemos dessa maneira porque entendemos ser a melhor, mas poderíamos, em uma escola fictícia, criar outros tipos de classificação, como por exemplo, que levasse em consideração somente as idades ou as atividades preferidas de cada um ou, até mesmo – improvável, mas possível -, que considerasse somente a altura dos estudantes. Nossa forma de classificação, sendo apenas mais uma dentre várias possibilidades de organização, poderia ser considerada melhor ou pior que as outras; mas não poderíamos dizer que qualquer uma delas fosse ERRADA, já que os alunos, independente do método empregado, continuariam a ser ensinados e a estudar!

O mesmo acontece com os nossos Orixás! Eles são e sempre serão irradiações divinas! Estão presentes na natureza, vibrando sobre tudo e sobre todos, e coexistindo uns com os outros, simultânea e eternamente. No entanto, como nós, humanos, temos dificuldade de entender alguns conceitos mais amplos, nossa mente procura criar classificações, organogramas, subdivisões e métodos afins, para nos facilitar a compreensão. Dessa forma, desde o começo da Umbanda, seus estudiosos vêm tentando estabelecer classificações para os Orixás, dividindo-os em grupos que NUNCA chegaram a ser consenso e que, de certa forma, nos lembram a subdivisão das turmas escolares que citamos anteriormente. Isso significa que, embora haja formas de classificação melhores e piores, nenhuma delas está errada! São apenas maneiras diferentes de subdividir o mesmo grupo de estudo.

O primeiro modelo de classificação de Orixás foi proposto em 1925 por Leal de Souza, um grande pesquisador umbandista. Ele dividiu os Orixás em sete grupos, sendo a primeira pessoa, inclusive, a utilizar a expressão “Sete Linhas de Umbanda”. Segundo a forma de classificação que criou, os Orixás foram distribuídos entre “Linha de Oxalá”, “de Ogum”, “de Oxóssi”, “de Xangô”, “de Iansã”, “de Iemanjá” e “das Almas”. Em 1942, Lourenço Braga, outro pesquisador, retira a “Linha de Iansã” e a substitui pela “Linha do Oriente”, e renomeia a “Linha das Almas” como “Linha Africana”. Dez anos mais tarde, em 1952, Benjamim Figueiredo, dirigente da Tenda Mirim, retira a “Linha do Oriente” e a “Linha Africana”, substituindo-as por “Linha de Yori” (das crianças) e “Linha de Yorimá” (de Xapanã). A discussão continua nos anos seguintes, com linhas sendo retiradas e linhas sendo adicionadas. O próprio Benjamim Figueiredo, que havia apresentado a classificação de 1952, em 1964 altera tudo, passando a afirmar que as Sete Linhas de Umbanda seriam as de Oxalá, Iemanjá, Xangô Caô, Oxóssi, Xangô Agodô, Ogum e Iofá (novo nome para Xapanã). Em 2003, Rubens Saraceni propõe uma nova configuração, na qual cada uma das Sete Linhas seria regida por um casal de Orixás, atuando sobre determinado “mistério” da criação, como Fé, Amor, Conhecimento, Justiça, Lei, Evolução e Geração. Nos anos seguintes, Manoel Lopes, dirigente do Núcleo de Estudos Mata Verde, cria uma versão interessante das Sete Linhas baseada na “Doutrina do Arapé”, onde são levados em consideração os elementos sob a regência dos Orixás, sendo eles: terra, fogo, água, ar, matas, humanidade e almas. Em 2010, Janaína Corral apresenta em seu livro “As Sete Linhas de Umbanda” a seguinte versão: Linha de Oxalá, das Águas, dos Ancestrais, de Ogum, de Oxóssi, de Xangô e do Oriente. Enfim, deu para perceber que, excetuando-se o uso comum do número SETE e que, provavelmente, se origina de suas propriedades místicas e cabalísticas – e que não trataremos nesse texto -, até o momento NUNCA houve, de fato, unanimidade na forma de se classificar os Orixás. Mas, como eu disse no início, isso não é - e nunca foi - problema! Não há forma errada! São apenas métodos diferentes, criados por nós, encarnados. Os Orixás continuam sendo os mesmos e não vão mudar sua forma de atuar na Natureza por causa dos métodos que adotarmos para os classificar.

Atualmente, há dezenas de definições diferentes sobre as Sete Linhas de Umbanda espalhadas pelos terreiros do Brasil e sendo defendidas e difundidas por seguidores de vários daqueles umbandistas citados anteriormente; e, a falta da compreensão de que NÃO HÁ forma mais correta ou mais errada, e de que os vários conceitos de Sete Linhas são apenas diferentes métodos de classificação criados por pessoas diferentes e em épocas diferentes -, têm gerado verdadeiras discussões nos meios de comunicação ligados à religião, sem que nunca consiga se chegar a conclusão alguma, já que os defensores de cada teoria acham que somente a sua está correta.

Fugindo de debates improdutivos e inconclusivos sobre definições que são, na verdade – todas - corretas, os idealizadores espirituais de A CENTELHA DIVINA decidiram manter nossa posição doutrinária à parte de qualquer conceito de Sete Linhas de Umbanda e de discussão a esse respeito, abstraindo de nossa liturgia esse tipo de classificação, de modo que, em nossos núcleos, NÃO HÁ MAIS SENTIDO em se falar em Sete Linhas, ou Linha de Orixá Fulano ou Beltrano, já que esse conceito é estranho à nossa doutrina. Entendemos que outros terreiros de Umbanda possam ainda adotar a ideia das Sete Linhas criada por este ou por aquele estudioso do passado, mas NÓS, especificamente, NÃO A ADOTAMOS! Em contrapartida, visando facilitar o entendimento de nossas mentes tacanhas, nossos amigos espirituais nos apresentaram uma nova visão, onde a classificação em “Sete Linhas” foi substituída pelo conceito dos “SETE RAIOS”, que é a representação da forma como essas vibrações divinas – ou Orixás – se irradiam de Deus e atuam sobre toda a Criação, e que pode ser melhor compreendida a partir da observação da figura geométrica símbolo da CENTELHA.




Entendemos que tudo parte de Deus, que Ele é a fonte primária de toda a existência e que dele se irradiam todas as vibrações que conhecemos como Orixás! Representamos Deus pelo triângulo no centro de nosso símbolo. A forma triangular remete ao aspecto tríplice da divindade, comum a várias crenças e religiões ao redor do globo, e a cor branca simboliza a fonte e a síntese de tudo, já que o branco é a união das sete cores que nossos olhos podem enxergar, representando, simbolicamente, tudo o que podemos perceber na Criação. Considerando que, nesse simbolismo, Deus é representado pela cor branca, e o branco se decompõe nas sete cores do arco-íris (vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, índigo e lilás), então TODA e QUALQUER vibração que parta do Criador, sendo irradiada sobre a Natureza, necessariamente, deverá estar presente em um dos sete raios coloridos que emanam do Triângulo Divino; mas também poderá se manifestar em combinações desses raios, já que, na Natureza as energias não são estáticas; elas se movimentam e podem se combinar, de forma semelhante às tintas de cores diferentes que, quando misturadas, formam uma terceira coloração. Semelhantemente, o mesmo também acontece com as vibrações dos Orixás que, sendo Potências Criadoras irradiadas de Deus, também fluem por seus sete raios divinos básicos, mas podem ser combinadas, gerando novas potências e vibrações.


Das infinitas Potências Criadoras irradiadas de Deus - que atuam estimulando sentimentos, criando e mantendo elementos da Natureza e regendo sobre as atividades humanas - conhecemos apenas, em média, dezesseis, que são os Orixás mais cultuados no Brasil (na África eram mais de 600). Esses Orixás são distribuídos pelos sete raios de acordo com suas afinidades ao elemento principal de cada um, podendo, por isso, haver MAIS DE UM Orixá em sintonia com a mesma faixa luminosa. Dentre os elementos principais, quatro são puramente materiais (água, terra, fogo e ar), dois imateriais (sentimento e pensamento) e um intermediário (mata) que, simbolicamente, representa a união do material com o imaterial na geração da VIDA (fauna e flora). Sendo assim:

No raio vermelho, há o elemento FOGO, a potência divina geradora de FORÇA e os Orixás Xangô e Ogum;


No raio laranja, há o elemento AR, a potência divina geradora de CORAGEM e o Orixá Iansã;


No raio amarelo, há o elemento MENTE, a potência divina geradora de CONSCIÊNCIA e a regência do Povo do Oriente;


No raio verde, há o elemento MATA, a potência divina geradora de AUXÍLIO e os Orixás Oxóssi e Ossâin;


No raio azul, há o elemento SENTIMENTO, a potência divina geradora de AMOR e o Orixá Oxum;


No raio índigo, há o elemento ÁGUA, a potência divina geradora de CRIAÇÃO e o Orixá Iemanjá;


No raio lilás, há o elemento TERRA, a potência divina geradora de DOAÇÃO e o Orixá Xapanã (Omolu / Obaluaiê).






Além disso, como as energias se misturam, nos limites entre um e outro feixe luminoso não há o fim abrupto de uma certa cor e o começo de outra, mas há uma faixa de transição onde as energias e os elementos se confundem, e onde são encontradas características que se assemelham tanto a uma quanto à outra faixa luminosa, sendo percebido vibrações divinas – ou Orixás - com características semelhantes aos Orixás presentes nas duas faixas, ao mesmo tempo.

Na transição do vermelho para o laranja, por exemplo, há o encontro do FOGO (elemento do raio vermelho) com o AR (elemento do raio laranja), combinando também as potencialidades FORÇA e CORAGEM. O Orixá, ou vibração divina, presente nessa frequência vibratória é OBÁ, Orixá guerreira, cujo arquétipo possui a força combativa de Ogum e a coragem de Iansã, e que rege tanto sobre o fogo como sobre o ar, simultaneamente.

Na transição do laranja para o amarelo, há o encontro do elemento AR com o elemento MENTE, combinando CORAGEM (potência do raio laranja) com CONSCIÊNCIA (potência do raio amarelo). O Orixá, ou vibração divina, presente nessa frequência vibratória é EWÁ, Orixá destemida, que rege sobre as brumas, nuvens e névoas e, portanto, sobre o elemento ar; e que atua também sobre a mente, pois rege sobre as artes, a inspiração, a intuição e a inconsciência.

Na transição do amarelo para o verde, há o encontro do elemento MENTE com o elemento MATA, combinando CONSCIÊNCIA (potência do raio amarelo) com AUXÍLIO vindo das matas (potência do raio verde). O Orixá, ou vibração divina, presente nessa frequência é IROCO, o próprio tempo, que, além de ser, no sentido cronológico, uma percepção da consciência e, portanto, manifestação que ocorre na mente, é também representado pelo “pé de Iroko” ou Gameleira Branca a qual, por ser árvore, está presente no elemento mata. Além disso, o Tempo é fonte permanente de auxílio, já que sem ele nada acontece!

Na transição do verde para o azul, há o encontro do elemento MATA com o elemento SENTIMENTO, combinando o AUXÍLIO irradiado de Oxóssi com o AMOR irradiado de Oxum. O Orixá, ou vibração divina, presente nessa frequência é LOGUNEDÉ, o Orixá que possui características tanto de Oxóssi (Orixá do raio verde) quanto de Oxum (Orixá do raio azul).

Na transição do azul para o índigo, há o encontro do elemento SENTIMENTO com o elemento ÁGUA, combinando AMOR com CRIAÇÃO. O Orixá, ou vibração divina, presente nessa frequência é IBEJI, Orixá que estimula a pureza de sentimentos e a renovação.

Na transição do índigo para o lilás, há o encontro do elemento ÁGUA com o elemento TERRA, combinando a potência geradora da CRIAÇÃO com a potência geradora da DOAÇÃO. O Orixá, ou vibração divina, presente nessa frequência é NANÃ, a própria lama (terra + água), aquela que gera e doa vida.

Combinando-se os sete raios divinos, forma-se o arco-íris regido por OXUMARÊ e, misturando-se todas as cores ou energias dos sete feixes coloridos, forma-se a luz branca, cujo elemento é a CRIAÇÃO CÓSMICA em sua totalidade, com a potência divina geradora de PLENITUDE e o Orixá regente OXALÁ.

O conceito de Sete Raios – em comparação com o de Sete Linhas - tem a vantagem de se aproximar mais do comportamento real da Natureza, por não “fixar” a vibração de um Orixá dentro de uma faixa estanque e não interpenetrável, uma vez que, na própria Natureza, as energias fluem e se combinam, assim como as sete cores básicas do arco-íris que, misturadas em determinadas proporções umas com as outras, compõem aquarela de infinitos matizes. As energias da mata alagada, por exemplo, já não são mais as mesmas que a da mata original, pois agora elas estão misturadas às energias do rio que transbordou. Nesse momento, as vibrações desse ambiente não são especificamente nem de Oxóssi e nem de Oxum, mas de Logunedé, combinação das duas vibrações primárias! As energias do rio, durante uma tempestade, se combinam com as do temporal, gerando um terceiro tipo de energia. É como se, nesse caso, pegássemos uma porção da vibração pura de Oxum, que está no raio azul, e a misturássemos com uma porção da de Iansã, contida no raio laranja, resultando em um Orixá com características vibratórias semelhantes a Oxum e à Iansã simultaneamente, combinando as potências geradoras de amor e coragem e construindo o arquétipo de ser doce e guerreira ao mesmo tempo, tal qual o Orixá Oxum Opará.

Esse modelo de classificação, portanto, não só considera a mobilidade das energias na natureza e seus possíveis entrecruzamentos, como também oferece espaço para compreender QUALQUER Orixá que se possa pensar, não ficando limitado nem a sete, nem a 12, 14 e nem mesmo aos 16 mais conhecidos no Brasil. Poderia comportar, tranquilamente, os mais de 600 Orixás que eram cultuados ancestralmente na África, ou 2000, ou quantos pudéssemos conhecer, pois TUDO o que vem de Deus - incluindo as vibrações dos próprios Orixás - está contido em um dos sete feixes luminosos primários ou em suas infinitas combinações.

Mas isso não é tudo! Sendo Deus a fonte primária de toda a existência, suas vibrações são irradiadas de si constantemente, expandindo-se sobre onde antes havia o NADA ou, simbolicamente, o negro, já que o negro é justamente a ausência de cor e luz (é por isso que em um quarto completamente fechado e com luzes apagadas, você enxerga somente o preto). Uma vez tendo sido emanados de Deus - ou do Triângulo Divino -, cada um dos feixes coloridos inicia seu movimento de expansão, avançando eternamente sobre o NADA – ou o negro -, semelhante ao próprio movimento de expansão do Universo. E é, justamente ali, onde os raios coloridos avançam sobre a escuridão, abrindo os caminhos e possibilitando a expansão da luz, que se encontra a vibração divina de EXU! Mas, a atuação dessa vibração é tão espetacular, que merece um texto todinho para descrevê-la. Sim! Não há dúvidas: Exu merece!


Amplexos,


Tata Luis


FONTE: https://www.acentelhadivina.com.br/post/2017/07/24/as-sete-linhas-e-os-sete-raios-divinos

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