Se hoje podemos consultar o nosso mapa astral completo e rir dos memes de Mercúrio retrógrado nas redes sociais é porque há muito tempo atrás alguém olhou para o céu e buscou algum significado naqueles pontos que brilhavam à noite. Mas é claro, a astrologia como a conhecemos hoje percorreu um longo caminho através de milênios.
Tudo provavelmente começou pelos sacerdotes e sacerdotisas da Mesopotâmia, que observavam o céu e gravavam suas observações em placas de barro cozido. O intuito deles era interpretar os movimentos celestes de acordo com a vontade de seus deuses. O registro mais antigo que se tem notícia é a Tábua de Vênus de Ammi-Saduga, de cerca de 1650 AEC.
Naquela época, os sábios acreditavam que os astros poderiam alertar sobre a ascensão e queda de reinos, diferentemente da influência na vida de indivíduos, como acontece hoje. No século VII AEC já existiam bibliotecas inteiras dedicadas a registros históricos e sua relação com as circunstâncias celestes daquele momento, o que contribuiu para a padronização das regras para interpretar o céu.
Lá pelo fim do século V AEC, os astrólogos da Mesopotâmia começaram a aplicar estas regras à data de nascimento das pessoas. Foi assim que surgiram os horóscopos mais ou menos como os conhecemos hoje. Com o império de Alexandre, o Grande, as tradições eruditas de todo o mundo antigo se misturaram e a astrologia conquistou adeptos em outras localidades.
William Lilly: Astrologia Cristã e sua disseminação na língua inglesa
Na Inglaterra do século XVII um astrólogo se destacou: William Lilly. Durante a conturbada política da época, ele estava do lado do partido parlamentarista contra os monarquistas, e começou a publicar previsões de vitória para o Parlamento e também sobre uma morte violenta para o rei Charles I. Suas profecias se confirmaram com a vitória das forças parlamentaristas na Guerra Civil Inglesa e com a execução do monarca em 1649.
Paralelamente a esta turbulência, Lilly trabalhou em sua obra-prima: o primeiro compêndio completo de astrologia em língua inglesa. Intitulado Christian Astrology (Astrologia Cristã), o livro se tornou referência para aspirantes a astrólogo mesmo após o início do século XIX.
Uma das grandes sacadas de William Lilly e que contribuiu com a popularidade de sua obra foi a decisão de escrevê-la em inglês, e não em latim, que era a língua acadêmica da época. Meio século após sua publicação, a ciência racionalista tornou o ocultismo fora de moda. Mas a astrologia sobreviveu graças ao fato de estar disponível a qualquer pessoa alfabetizada no idioma e capaz de compreender o livro Christian Astrology. Isso contribuiu para o seu renascimento no século XIX.
A astrologia atrás das grades
Na Nova York do início do século XX qualquer tipo de leitura de sorte e adivinhação era considerado crime. Isso rendeu alguns problemas para a famosa astróloga Evangeline Adams. Em 1899 ela visitou a cidade e, diante do entusiasmo do dono do hotel onde se hospedou, fez o mapa astral dele. Ela teria ficado tão preocupada com o que viu que decidiu ir para outro hotel. Adams tinha visto um grande desastre, e no dia seguinte o estabelecimento foi destruído por um incêndio.
A notícia se espalhou a tal ponto que ela decidiu se mudar para lá e atender clientes em uma sala no Carnegie Hall. Algumas das pessoas mais ricas e influentes de Nova York se tornaram seus clientes, incluindo o banqueiro J.P. Morgan.
Só que tal visibilidade era perigosa por causa da lei que proibia adivinhações – o que incluía a astrologia. Apesar de seus amigos influentes, em 1914 ela foi processada por divinação. Em sua defesa, pediu ao juiz os dados de nascimento de alguém que só ele conhecesse e ela interpretaria o mapa daquela pessoa na corte. Após ter feito uma descrição acurada da personalidade do filho do juiz, ele ficou tão impressionado que afirmou que a ré tinha elevado a astrologia ao nível de uma ciência exata.
Com isso, ele determinou que a astrologia não era um tipo de divinação e, portanto, não era ilegal. Este foi o primeiro passo para reverter a opinião pública quanto à astrologia e em meados do século XX os astrólogos já tinham liberdade para praticarem a sua arte em boa parte do mundo ocidental.
A compreensão das personalidades pelos astros
Você também emite um pré-julgamento só ao saber o signo de alguém? Virginianos são metódicos e organizados, leoninos são vaidosos e cancerianos são apegados à casa e à família. Se você também se interessa pelas personalidades definidas pelo zodíaco, deve isso a Dane Rudhyar.
Inicialmente chamado de Daniel Chennevière, ele nasceu em uma família rica de Paris e era uma criança prodígio: formou-se na universidade aos 16 anos, publicou seu primeiro livro aos 18 e logo se tornou um conhecido compositor – praticamente aquele primo com quem ninguém quer ser comparado no jantar em família.
Após se mudar para os Estados Unidos, ele alterou seu nome para Dane Rudhyar e passou alguns anos trabalhando em composições musicais, inclusive para Hollywood. Em 1931 ele parou de compor música, mudou-se para o Novo México e começou a se dedicar ao ocultismo, em especial à astrologia.
Mas Rudhyar não se interessava muito com a previsão do futuro, como era o trabalho de Evangeline Adams. Ele se interessava mesmo era na compreensão da personalidade das pessoas por meio dos astros, unindo a tradição astrológica a ideias de psicologia e filosofia modernas.
Dane Rudhyar começou a escrever artigos sobre o tema e em 1936 publicou sua obra-prima The Astrology of Personality (Astrologia da Personalidade), que fez sucesso imediatamente. Sua abordagem acabou se tornando a mais influente no renascimento da astrologia, inspirando outros astrólogos a utilizarem sua visão, tornando a leitura de mapas individuais de nascimento uma das práticas centrais quando o assunto envolve o zodíaco. Se hoje você pode culpar o seu Mercúrio em Áries por tudo, agradeça a Rudhyar.