Santo Graal
Seria uma lenda ou um mito, o que poderia ser? Os escritores e historiadores se debatem em torno do assunto e não chegam a nenhuma conclusão lógica. O grande mitólogo Joseph Campbell escrevendo sobre o mesmo dizia:
“O rei que inicialmente cuidava do Graal era jovem adorável, mas por ser ainda muito jovem e cheio de anseios de vida, acabou por tomar atitudes que não se coadunavam com a posição de rei do Graal. Ele então abandonou o castelo bradando o grito de guerra “Amor”, o que é próprio da juventude, mas que não se coaduna com a condição de rei do Graal. Ele partiu do castelo e, quando cavalgava, um muçulmano, um não-cristão, surgiu da floresta. Ambos erguem as lanças e se atiram um contra o outro. A lança do rei mata o pagão, mas a lança do pagão castra o rei do Graal.”
“O que isso quer dizer é que a separação que os padres da Igreja fizeram entre matéria e espírito, entre o dinamismo da vida e o reino do espírito, entre a graça natural e a graça sobrenatural, na verdade, castrou a natureza”.
Godwin:
A origem da palavra Graal não é muito precisa, mas geralmente se atribui a ela o sentido de ‘cálice’ – do latim gradalis. Ela nasceu na era medieval, junto com a literatura arturiana, que narra as aventuras do Rei Arthur e seus Cavaleiros da Távola Redonda. Mas a amplitude desta lenda é muito maior, não se restringindo apenas a esta. O Santo Graal é um dos mais antigos e enigmáticos mitos da humanidade. Sob uma análise superficial, é o cálice usado por Jesus Cristo no episódio da Última Ceia e que contém seu sangue, que havia sido recolhido no momento da crucificação.
A Igreja Católica não dá ao cálice mais do que um valor simbólico e acredita que o Graal não passa de literatura medieval, apesar de reconhecer que alguns personagens possam realmente haver existido. Nas representações de José de Arimatéia em vitrais de igrejas, ele aparece segurando não um cálice, mas dois frascos ou galheteiros".
Origens Celtas
A origem do mito pode ser analisada sob um ponto de vista pré-cristão. Sabe-se que entre os celtas, recipientes utilizados para armazenar alimentos, eram considerados objetos sagrados. Este conceito estende-se ao caldeirão mágico (representando o útero da Deusa) referencial de ritos pagãos, capaz de renovar e ressuscitar.
Portanto, partindo do princípio que os celtas instalaram-se em diversas regiões da Europa, inclusive onde atualmente é o Reino Unido, e as primeiras citações históricas do Graal referem-se às lendas arthurianas, que, por sua vez, surgiram nesta região, é possível que o mito do Cálice Sagrado tenha apenas se transportado através dos séculos e sido adaptado ao Graal; desta vez, através de uma releitura cristã. Porém, mesmo entre os celtas, já havia uma lenda semelhante de um valoroso líder que saía em busca de um caldeirão sagrado.
Origens Cristãs
Há, pelo menos, duas versões para justificar a origem e o desenvolvimento histórico do mito. Numa primeira análise, a lenda conta que José de Arimatéia recolheu no cálice utilizado na Última Ceia, o sangue de Jesus, no momento em que este era crucificado, após o último golpe de lança aplicado pelo soldado romano conhecido por Longinus.
José, que era membro do Sinédrio (tribunal judeu) e um homem de posses, solicitou ao imperador Poncio Pilatos o corpo de Cristo como uma "recompensa" por seus préstimos ao império. Pilatos atendeu ao pedido e José enterrou o corpo de Cristo em suas terras.
Após este fato, José de Arimatéia, que secretamente era seguidor de Cristo, teria sido feito prisioneiro pelos judeus por ocasião do sumiço do corpo de Cristo. José ficou muito tempo como prisioneiro numa cela sem janelas, alimentando-se apenas de uma hóstia diária, entregue por uma pomba que se materializava. Certa vez, o próprio Cristo surgiu diante de José entregou-lhe o Graal com a missão de protegê-lo.
Após conquistar a liberdade, utilizou-se de uma conhecida rota comercial e viajou para Inglaterra, levando consigo o Cálice Sagrado. Ao chegar, reuniu alguns discípulos de Cristo e fundou uma pequena Igreja, onde atualmente há as ruínas da Abadia de Glastonbury. Porém, não é possível afirmar onde o Graal teria sido ocultado a partir deste momento.
Após o Cálice Sagrado chegar em terras européias, através de José de Arimatéia, segue diversas rotas entre os alguns países deste continente e confunde-se entre a história e a literatura medieval.
Trajetória do Graal na História
A continuidade mais conhecida sobre o destino do Graal, atesta que este teria ficado sob a tutela dos Templários. Assim, os Cavaleiros teriam levado o cálice para a aldeia francesa de Rennes-Le-Château. Sob outra narrativa, o Graal teria sido levado para a cidade de Constantinopla e em seguida para Troyes, onde no período da Revolução Francesa (a partir de 1789), teria desaparecido misteriosamente.
Uma outra versão atesta que os cátaros, um grupo cristão que vivia isolado na fortaleza de Montsegur e pregava uma fé simples, oposta às imposições clericais, ocultavam uma relíquia religiosa de valor muito alto. Mas, em meados do século XIII, os cátaros foram vítimas de uma invasão de cruzados ordenada pelo Papa. Mais de duzentos membros da doutrina foram queimados sob a acusação de heresia e a misteriosa relíquia desapareceu durante a investida dos soldados. Mas não há nenhuma evidência confiável indicando que fosse o Graal.
Neste mesmo período, surgem boatos de que os cruzados que regressavam de Jerusalém traziam consigo uma âmbula contendo o sangue de Cristo; contradizendo e confundindo ainda mais a rota histórica do Santo Graal.
Entretanto, através de estudos arqueológicos e investigações profundas, tomando como base também os primeiros registros literários, foi possível traçar uma linha mais próxima da realidade sobre a trajetória do Graal na Europa e na história.
Inicialmente, nos primeiros três séculos após chegar em solo europeu, o cálice teria ficado na Itália. Por volta do século III, o monge São Lourenço o levou para a região dos Pirineus Orientais, na Espanha. Noutra versão, seria um ermitão de nome Juan de Atares.
Ainda, seguindo a rota sugerida nas obras literárias medievais, principalmente em Parzifal (Wolfram von Eschenbach), o cálice teria sido ocultado no monastério de San Juan de La Penha, na cadeia montanhosa dos Pirineus. Neste ponto há uma conexão real entre a obra de Eschenbach e o relato histórico do monge São Lourenço que conduziu o cálice até os Pirineus.
Ainda tomando por base a obra Parzifal, porém, havendo neste ponto um "vácuo histórico", o Santo Graal passa por Zaragoza e surge, desta vez, na Catedral de Valência, na qual há uma pequena capela, construída no século XIV, conhecida como Capela do Santo Cálice. Neste local, aos olhos dos visitantes mas protegido por um sacrário à prova de balas, encontra-se um cálice ostentado há mais de seiscentos anos como o legítimo Santo Graal.
As evidências científicas atestam que esta relíquia foi produzida entre a segunda metade do primeiro século antes de Cristo e a primeira metade do primeiro século da era Cristã. Ainda, esta peça foi produzida em ágata roxa na região de Alexandria ou Antioquia; mas, posteriormente, já na Espanha, no século XIII, recebeu adornos de ouro e de pedras preciosas como esmeraldas e rubis, tendo o conjunto uma altura de aproximadamente 17 centímetros.
Portanto, é cientificamente comprovado que o Cálice da Catedral de Valência foi produzido no período e região correspondente à versão cristã do Santo Graal. Mas a Igreja não o aceita como uma relíquia religiosa e também não é possível atestar que seja este o cálice que comportou o sangue de Cristo.
Literatura e Simbolismo
Entre tantos aspectos simbólicos atribuídos ao Graal, muitos nasceram na interpretação dos artistas que, ao longo dos séculos, recondicionaram a lenda de diversas formas, principalmente na literatura medieval.
Por volta do ano 1190, o romance de Chrétien de Troyes intitulado Le Conte du Graal, narra a busca pelo cálice. Trata-se de um poema inacabado contendo nove mil versos que abordam a busca pelo Santo Graal. Interessante é que o lendário Rei Arthur não participa diretamente da epopéia, que finaliza sem que o objeto almejado seja encontrado. Esta obra foi o ponto de partida para as obras futuras abordando o tema.
Entre 1200 e 1210, o francês Robert de Boron, publicou Roman de L'Estoire du Graal; o que popularizou ainda mais o tema e inseriu os elementos históricos não muito diferentes dos que são conhecidos atualmente.
Outra obra de Boron, Joseph d'Arimathie, traça conexões simbólicas interessantes ao citar que José de Arimatéia foi ferido na coxa por uma lança. Em outra versão, o ferimento é nos órgãos genitais. Percebe-se, portanto, uma associação entre a lança, arma utilizada pelos soldados romanos, e a espada, principal arma e uma das maiores referências das lendas arthurianas (como a mítica Excalibur). Assim, o ferimento nos genitais sofrido por José em virtude de sua quebra do voto de castidade, associa-se à traição de Lancelot, um dos componentes da Távola Redonda e homem de confiança de Arthur, que tornou-se amante de Guinevere, esposa do Rei.
Nesta mesma época, a obra Parzifal do autor alemão Wolfram von Eschenbach associa o Graal a uma esmeralda também chamada Exillis, Lapis exillis ou Lapis ex coelis (pedra caída do céu). Esta esmeralda seria parte do terceiro olho de Lúcifer, que se partiu quando o anjo se rebelou contra o Reino Divino. Uma das partes desta esmeralda teria sido entregue aos templários para que ficasse protegida de intenções malignas. Deste modo, pode-se entender também que a esmeralda (que neste caso é o Santo Graal) faz alusão à mítica Pedra Filosofal dos alquimistas.
Ainda, seja sob a ótica cristã ou pagã, muitos dos aspectos do Graal estão relacionados com a busca da perfeição. Por exemplo, quando Arthur e os cavaleiros partem em busca do Cálice Sagrado que poderia evitar a queda de seu reinado, estão buscando virtudes como nobreza e justiça.
Arthur e a Távola Redonda podem ser, respectivamente, associados a Jesus e seus apóstolos. Judas Iscariotes é o seguidor que traiu seu líder (Jesus Cristo) assim como Lancelot traiu Arthur ao se envolver com Guinevere. A lança que fere Cristo pode ser interpretada como o elemento masculino; o cálice como o útero feminino. Portanto, há o simbolismo do sangue nobre (de Jesus Cristo) fecundando o "útero mágico" representado pelo Graal.
Através de uma análise histórica, o Graal pode ser compreendido como a motivação que os cruzados encontraram após a decepção das mal sucedidas batalhas na Terra Santa. Neste caso, o Graal representa um novo ideal de vida aos que foram derrotados pelos "infiéis".
Sob um ponto de vista mais amplo, o Santo Graal, Rei Arthur e a lendária Excalibur são arquétipos distintos que traçam um mesmo conceito: o Rei (líder) virtuoso que, por seus méritos, conquista uma poderosa espada e torna-se invencível, partindo em busca de um objeto mágico capaz de restabelecer a ordem, a paz e a prosperidade em seu reino.
De qualquer forma, na condição de uma relíquia histórica da cristandade ocidental, não é possível avaliar o Santo Graal encontrado atualmente em Valência ou o Santo Graal metafórico do imaginário medieval; pois ambos têm valores distintos e igualmente incalculáveis. O Santo Graal é uma referência secular de valores humanos perdidos que, simbolicamente, serão resgatados por um profeta, um valente guerreiro, um líder de uma nação ou simplesmente por quem se revelar digno de portá-lo.
Na literatura medieval, a procura do Graal representava a tentativa por parte do cavaleiro de alcançar a perfeição. Em torno dele criou-se um complexo conjunto de histórias relacionadas com o reinado de Artur na Inglaterra, e da busca que os Cavaleiros da Távola Redonda fizeram para obtê-lo e devolver a paz ao reino. Nas histórias misturam-se elementos cristãos e pagãos relacionados com a cultura celta.
Segundo uma das versões da lenda, os Templários teriam levado o cálice para a aldeia francesa de Rennes-Le-Château. Em outra versão, o cálice teria sido levado de Constantinopla para Troyes, na França, onde ele desapareceu durante a Revolução Francesa.
Em um país de maioria católica como o Brasil, a figura do Graal é tida, comumente, como a da taça que serviu Jesus durante a Última Ceia.
A Igreja Católica não dá ao cálice mais do que um valor simbólico e acredita que o Graal não passa de literatura medieval, apesar de reconhecer que alguns personagens possam realmente haver existido. Nas representações de José de Arimatéia em vitrais de igrejas, ele aparece segurando não um cálice, mas dois frascos ou galheteiros".
Alguns tomam o cálice de ágata que está na Catedral de Valência, na Espanha, como aquele que teria servido Cristo na Última Ceia. É por isso um importante centro de peregrinação.
Os celtas se referiam ao Graal como um caldeirão e a lenda em torno de um cálice sagrado pode ter relação com a importância que os celtas davam ao caldeirão, onde os druidas preparavam suas poções mágicas.
Segundo alguns escritores a távola redonda foi construída por um carpinteiro, este era o pai de Guinevere. A távola foi presente do carpinteiro a Arthur em forma de dote quando este se casou com Guinevere, e foi Merlin quem escolheu os cavaleiros para que se sentassem a ela, e então, predisse a busca do Santo Graal.
O Graal representa o enigma mais profundo da tradição arturiana. A sua Demanda não tem fim, é eterna. Oferece unidade no meio da fragmentação, unindo numa confraria todos os que caminham pelos trilhos do coração, na sua senda. É um portal entre os mundos e uma ponte para o Divino.
O Graal é apontado como a fonte da cura para todos os males do mundo. Ao encontrá-lo, virá a libertação total do Amor, que poderá mudar o mundo para sempre - talvez até trazer o fim dos tempos e passagem da humanidade para um outro plano...
aspecto mais importante a ser acrescentado à história do Graal foi a sua associação à Eucaristia Cristã. Isto influenciou todas as versões posteriores da lenda. O Graal passou a ser visto como um símbolo do sacrifício de Cristo, tornando-se "no corpo de Nosso Senhor". É este elemento único da Eucaristia, a comunhão com Deus, que torna o Graal diferente de qualquer outro objeto sagrado. O Graal conteve o sangue derramado por Cristo na Cruz.
De qualquer modo, cristão ou pagão, o Graal simplesmente é. Símbolo universal, tem uma dimensão de mistério, mas também de sacrifício, de altruísmo e de busca do absoluto, quer lhe chamemos Deus ou Deusa, Centelha Divina, ou um outro qualquer termo abstrato.
Nos antigos ensinamentos dos mistérios helénicos é referida a Taça (Crater) onde os deuses misturaram a essência de toda a criação. Os Sufis viam-na como a Taça de Jamshid, de onde brotava a inspiração divina e todo o conhecimento. Concepções semelhantes são encontradas na Índia, no Japão, na Rússia e nos povos Celtas.
O Graal, ou Sangreal, apareceu aos cavaleiros da Távola Redonda emanando uma luz fulgurante na qual se viram uns aos outros com maior ponderação e generosidade do que antes. A visão calou-os, tal como os guerreiros celtas que emergiam do Caldeirão do Renascimento, vivos mas mudos. O Graal em si, envolto em samito branco, tinha a forma de um cálice da Eucaristia, recordando a taça da Última Ceia. O cálice imbuiu o salão de doces aromas, e os cavaleiros comeram e beberam como nunca, o que lembra os antigos Caldeirões da Abundância celtas. (Iluminura, c. 1400)
Nas histórias do Rei Arthur, o Graal reveste-se de um virtual poder curador, pois o herói, ferido, envia seus Cavaleiros em busca da taça sagrada. Segundo o rei, só ela poderia salvar sua vida e a do reino, envolto em sombras. Geralmente se atribui a procura deste cálice à tentativa de conquistar a perfeição.
Quando se reuniram pela primeira vez ante a mesa e se dispunham a sentar, um grande relâmpago seguido por um forte trovão surpreendeu a todos. Merlin, que estava no salão da mesa redonda, disse em tom muito solene: "Cavaleiros é o momento para que cada um renda homenagem ao rei". Um a um foram passando diante de Artur fazendo-lhe uma reverencia como ato de submissão, fidelidade e respeito. A medida que iam passando, o nome de cada cavaleiro aparecia gravado em ouro em uma das cadeiras. Uma vez sentado em seus respectivos postos, deram-se conta que sobravam três. Logo Merlin explicou: "Dois destes três postos serão para os melhores cavaleiros de cada ano, e a outra será apenas para o homem mais digno do mundo. Se alguém não reúne méritos para sentar nesta cadeira e ousar sentar, morrerá no ato". Foi assim que vários cavaleiros tiveram o direito de sentar nos dois postos de honra, porém nenhum se atrevia a sentar no lugar proibido. Nem mesmo Lancelot, que era o considerado mais valente e digno de todos os cavaleiros, ousava pensar sequer na possibilidade de sentar ali.
O poder da mulher e a sua capacidade para engendrar vida foram noutro tempo algo de muito sagrado, mas representava uma ameaça para a Ascensão da Igreja predominantemente masculina e por essa razão a divindade feminina começou a ser demonizada pela Igreja que considerava a mulher impura.
Foi o homem, e não Deus, quem criou o conceito de pecado original, pelo qual dizia a Eva comeu a maçã e provocara a queda da humanidade. A mulher antes sagrada e a que engendrava a vida converteu-se na inimiga.
Em conclusão, o ciclo arturiano com sua maravilhosa Demanda do Santo Graal é a confirmação de um longo itinerário poético e espiritual. O esoterismo do Graal é inegável, e se revela nessa transmutação de uma fábula predestinada num símbolo cristão. Teológica e mística, esse tributo medieval é rico em ensinamentos e nunca morrerá, pois sempre surgirão dele novas interpretações.
fonte: 3fasesdalua
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